Por suas inovações, as empresas Kerow e Pantabio estão entre as finalistas do Prêmio Finep de Inovação 2025 – Etapa Regional Centro-Oeste. Criado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o prêmio reconhece projetos que geram impacto positivo em setores estratégicos da economia brasileira.
Exemplos promissores de como tecnologias nascidas nas universidades podem transformar o agronegócio, as duas empresas receberam investimento inicial do Programa Centelha 2, uma ação estratégica do Governo do Estado, executada pela Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul), em parceria com a Finep.
O programa oferece capital semente, em forma de subvenção econômica (não reembolsável), para estimular a criação de empreendimentos inovadores. Além do recurso financeiro, disponibiliza capacitações e outros tipos de suporte, a fim de impulsionar a transformação de ideias em negócios de sucesso.
“A presença da Kerow e da Pantabio entre os finalistas do Prêmio Finep é motivo de orgulho para Mato Grosso do Sul. Isso mostra que o investimento público em ciência, tecnologia e inovação gera resultados concretos, capazes de transformar a economia, promover sustentabilidade e abrir caminhos para que ideias inovadoras se tornem empresas de impacto nacional.” — Márcio de Araújo Pereira, diretor-presidente da Fundect.
“Concorrer em uma das categorias mais desafiadoras do prêmio, voltada ao aumento da produtividade industrial – considerado um dos maiores desafios para o desenvolvimento do país – reforça a maturidade científica e tecnológica da Kerow e evidencia o impacto de transformar pesquisa em soluções aplicáveis ao mercado.” — Fabrício Weber, CEO da Kerow.
“Essa indicação tem um significado especial: mostra que nosso trabalho em transformar a biodiversidade do Pantanal em soluções sustentáveis para a agricultura está no caminho certo. Esse resultado só foi possível graças ao apoio da Fundect, do Governo do Estado, por meio da Semadesc, e do Sebrae, que têm sido fundamentais para impulsionar a inovação e a bioeconomia em nossa região.” — Tiago Calves, CEO da Pantabio.
A cerimônia de premiação da Etapa Regional Centro-Oeste do Prêmio Finep de Inovação 2025 será realizada no dia 8 de outubro, às 15h, no Millenium Convention Center, em Brasília.
Os vencedores regionais recebem troféus e o Selo Prêmio Finep de Inovação 2025, além de disputarem a etapa nacional, que acontecerá em Brasília, no Palácio do Planalto, entre novembro e dezembro.
Kerow: inteligência artificial para transformar a pecuária de precisão
Deep tech indicada ao prêmio na categoria “Transformação Digital da Indústria para Ampliar a Produtividade”, a Kerow desenvolve uma plataforma integrada de hardware e software para identificação de bovinos de forma não-invasiva, utilizando Visão Computacional e Inteligência Artificial. A tecnologia tem o potencial de substituir métodos tradicionais como brincos e marcas físicas, oferecendo vantagens como redução do estresse animal, melhoria na rastreabilidade e aumento da produtividade, atendendo uma demanda crescente da pecuária de precisão.
Fabricio Weber (à direita), CEO da Kerow, que desenvolve sistema para pecuária de precisão.
“O apoio da Fundect por meio do Centelha foi essencial para sairmos do papel e irmos ao campo. A subvenção financeira viabilizou o desenvolvimento do nosso primeiro protótipo, aquisição de componentes e a validação técnica com usuários reais”, destaca Fabricio Weber, um dos fundadores da empresa, mestre em Computação Aplicada (UFMS) e doutorando em Zootecnia (UFGD), na área de produção animal.
A Kerow está sediada na SInova, incubadora da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Com o apoio do Programa Centelha, a startup desenvolveu um banco de imagens inédito, criou algoritmos específicos para reconhecimento corporal, facial e de focinho, e validou os modelos em ambiente de campo. Os resultados iniciais são promissores: a tecnologia atingiu até 97% de acurácia na identificação de bovinos pantaneiros pelo padrão corporal.
Outro aspecto inovador é o desenvolvimento de um pipeline de processamento de dados específico para o contexto da pecuária extensiva, adaptado para operar com hardware de menor custo, com a perspectiva futura de embarque em dispositivos edge (computação na ponta), o que é fundamental para ambientes rurais com baixa conectividade.
Pantabio: inovação pantaneira entre ciência e sustentabilidade
Indicada na categoria “Deep Tech Startups”, a Pantabio desenvolveu o primeiro bioinsumo à base de fungos isolados do Pantanal. O produto se destaca por combinar alta eficiência no controle de doenças em plantas, estímulo ao crescimento vegetal e contribuição para a preservação ambiental.
A startup nasceu a partir da pesquisa de doutorado do engenheiro agrônomo Tiago Calves Nunes, em parceria com a professora Márcia Celoto, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), em Aquidauana. Focada na bioprospecção de microrganismos com potencial agrícola, a empresa trabalha com cepas do gênero Trichoderma, isoladas no bioma pantaneiro. Essa origem confere vantagem competitiva: os microrganismos já estão naturalmente adaptados às condições edafoclimáticas da região, o que garante maior persistência no solo e interação com a microbiota local.
Tiago Calves (segundo à direita) e equipe da Pantabio, em Aquidauana (MS).
“O bioinsumo Pantabio é um biopesticida natural que não apenas combate doenças nas plantas, mas também atua como bioestimulante, melhorando a absorção de nutrientes pelas raízes e aumentando a produtividade”, explica Nunes.
A tecnologia tem demonstrado resultados positivos em diversas culturas — como feijão, soja, milheto, hortaliças, frutas, eucalipto e pastagens. Entre os benefícios observados estão maior desenvolvimento radicular, plantas mais saudáveis e redução nos custos com defensivos químicos.
Além de reduzir significativamente a necessidade de fungicidas sintéticos, o bioinsumo contribui para minimizar impactos ambientais e diminui o risco de resíduos químicos nos alimentos e no solo. O avanço dialoga com as diretrizes do Plano Nacional de Bioinsumos, ao promover independência em relação a insumos importados e incentivar a adoção de práticas regenerativas na agricultura brasileira.
Parceria estratégica
De 2020 a 2024 a parceria entre a Fundect e a Finep já beneficiou 160 empresas sul-mato-grossenses, principalmente por meio dos programas Centelha e Tecnova. Os investimentos somam R$ 23,1 milhões, direcionados a setores estratégicos, fortalecendo o ecossistema de inovação de Mato Grosso do Sul, ampliando as oportunidades para empreendedores de base tecnológica, impulsionando a criação de soluções inovadoras e a competitividade regional.
Nos programas, a Fundect e a Finep operam em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), a Fundação CERTI e o Sebrae.
Texto: Maristela Cantadori