O Dia Nacional do Cerrado, comemorado em 11 de setembro, celebra a importância e reforça a necessidade de proteger o segundo maior bioma do Brasil. Em Mato Grosso do Sul, a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia (Fundect) tem investido em pesquisas que contribuem para a conservação e o aproveitamento sustentável desse ecossistema.
O Cerrado ocupa mais de 62% do território de Mato Grosso do Sul, abrangendo 62 dos 79 municípios do Estado. São mais de 22 milhões de hectares, que fazem parte de um conjunto de 203 milhões de hectares em todo o país, segundo a Embrapa, ocupando cerca de 23% do território nacional. Essa imensidão abriga uma biodiversidade singular, com espécies exclusivas, muitas delas ainda pouco estudadas.
É nesse cenário que a ciência ganha protagonismo. Pesquisas financiadas pela Fundect têm buscado soluções inovadoras para a produção sustentável, conservação da biodiversidade e para o desenvolvimento de bioinsumos a partir de espécies típicas do Cerrado.
Conheça algumas das pesquisas apoiadas pela Fundect:
Prospecção farmacológica do Inibidor de trispina isolado das sementes de Inga laurina (sw.) Willd na busca de compostos anti-inflamatórios
(Chamada Fundect Nº 10/2022 Mulheres na Ciência Sul-mato-grossense)
Coordenada por Mônica Cristina Toffoli Kadri, doutora em farmacologia e pesquisadora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o estudo prospecta propriedades farmacológicas de um inibidor de trispina isolado das sementes de ingá-branco, na busca de compostos anti-inflamatórios.
A espécie apresenta atividade antifúngica e é conhecida pelo seu efeito inseticida devido a presença de um inibidor de serinoprotease em suas sementes, chamado ILiT (inibidor de tripsina de Inga laurina). Os inibidores naturais de serinoproteases (iSP) são objeto de estudo para o desenvolvimento de medicamentos com potencial para o tratamento de distúrbios cardiovasculares, osteoporose, artrite, doença de Alzheimer, câncer e AIDS.
Desenvolvimento de produtos biotecnológicos através da avaliação química e farmacológica de espécies do Cerrado e Pantanal sul-mato-grossense
(Chamada Fundect Nº 31/2021 – Universal 2021 – ODS)
Sob coordenação da doutora Kely de Picoli Souza, pesquisadora da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), o estudo investiga o perfil químico e o potencial farmacológico de extratos vegetais de diversas espécies (Protium heptaphyllum, Lafoensia pacari, Discocactus ferricula, Erythroxylum anguifugum, Salvinia auriculata e Dipteryx alata) na prevenção e tratamento de doenças metabólicas ligadas ao estresse oxidativo, neurodegenerativas e câncer, direcionando o desenvolvimento de produtos biotecnológicos para a saúde e estimulando a bioeconomia baseada na sustentabilidade.
Potencial dos Produtos Naturais da flora de Mato Grosso do Sul no desenvolvimento de estratégias terapêuticas para o combate à resistência bacteriana, no âmbito da Saúde Única
(Chamada Fundect Nº 31/2021 – Universal 2021 – ODS)
O estudo sob coordenação da dra. Nídia Cristiane Yoshida, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), avalia extratos, óleos essenciais e compostos isolados de plantas do Pantanal e Cerrado em combinação com antibióticos, visando identificar efeitos sinérgicos contra bactérias multirresistentes. Essa abordagem integrada pode revelar mecanismos moleculares subjacentes aos efeitos sinérgicos, informando o desenvolvimento de terapias mais eficazes.
Projeto FLORA-MS: Conhecimento em benefício da conservação da biodiversidade e do desenvolvimento sustentável
(Chamada Fundect Nº 31/2021 – Universal 2021 – ODS)
O estudo, coordenado pelo Dr. Marcelo Leandro Bueno, pesquisador da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), tem como objetivo aprofundar o conhecimento sobre a flora do Mato Grosso do Sul e produzir um banco de dados inédito e inovador com informações completas sobre a ocorrência, distribuição e características ambientais de onde as espécies se encontram.
Estratégias para mitigar o estresse hídrico em mudas de espécies nativas no Cerrado: respostas morfofisiológicas e enzimáticas
(Chamada Fundect Nº 31/2021 – Universal 2021 – ODS)
A pesquisadora Dra. Silvana de Paula Quintão Scalon, da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), investiga estratégias para reduzir os efeitos do estresse hídrico em mudas de espécies nativas do Cerrado. O estudo avalia como o sombreamento, a aplicação de silício e o uso de extrato de algas podem atenuar danos no metabolismo fotossintético, enzimático e nas características morfológicas de espécies como Cedrela fissilis Vell., Myracrodruon urundeuva Alemão e Hymenaea courbaril L., submetidas a diferentes condições de disponibilidade de água, além de analisar o potencial de recuperação dessas plantas.
Com as mudanças climáticas intensificando períodos de seca e chuvas extremas, os resultados dessa pesquisa podem orientar práticas de manejo silvicultural capazes de conservar a biodiversidade, apoiar a recuperação de áreas degradadas e promover o uso sustentável das espécies e do ecossistema.
Dinâmica do carbono, atividade biológica e sustentabilidade de sistemas de produção agropecuários de Mato Grosso do Sul
(Chamada Fundect 18/2021 – MS CARBONO NEUTRO)
Estudo desenvolvido pelo pesquisador Dr. Eduardo Barreto Aguiar, da Universidade Anhanguera/Uniderp, avaliou diferentes sistemas de produção quanto à qualidade do solo, atividade biológica e carbono orgânico do solo. As análises foram realizadas a partir de um experimento de longa duração, implantado em 1994 e conduzido continuamente na EMBRAPA Gado de Corte. Os resultados indicaram que os sistemas integrados, especialmente ILP, ILPF, pastagem adubada e o plantio direto, apresentam maior potencial para promover a conservação do solo, aumentar o sequestro de carbono e favorecer a sustentabilidade agropecuária no Cerrado.
Balanço de carbono nos biomas de Mato Grosso do Sul: fontes e sumidouros utilizando sensores remotos e modelagem futura
(Chamada Fundect 18/2021 – MS CARBONO NEUTRO)
Coordenada por Paulo Eduardo Teodoro, engenheiro agrônomo e professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), campus de Chapadão do Sul, a pesquisa mapeou o fluxo de carbono nos três biomas presentes em Mato Grosso do Sul – Pantanal, Mata Atlântica e Cerrado – e em cada um avaliou diferentes usos e ocupação do solo – vegetação nativa, pastagem, cultura de soja e eucalipto. O objetivo é identificar quais atuam como fontes e/ou sumidouros das emissões de carbono e criar um modelo matemático de sensoriamento remoto.
A pesquisa aponta caminhos para unir produção agrícola e armazenamento de carbono no solo, incentivando práticas sustentáveis.
Texto: Comunicação Fundect.
Foto: Reprodução.