A Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul), em parceria com o Governo do Estado, apoia ações que auxiliam na preservação dos recursos hídricos. No mês em que é celebrado o Dia Mundial da Água, a Fundect apresenta um panorama sobre os projetos que recebem incentivo estadual para assegurar o bom uso e a preservação deste importante recurso natural.
Mato Grosso do Sul é referência fluvial no Brasil e no mundo. O Pantanal, maior planície alagável do globo com com mais de 220 mil km², tem a maior parte de seu território localizado no Estado. Além disso, também abriga oito aquíferos, sendo o Guarani uma das principais reservas subterrâneas de água doce do planeta.
Atualmente, há 12 projetos em andamento, apoiados pela Fundect, investigando as condições hídricas no Estado, buscando resultados que tragam equilíbrio entre as atividades econômicas e os cuidados com a natureza.
Dentre esses projetos, o da pesquisadora Lucy Ribeiro Ayach estuda o saneamento ambiental e o do pesquisador Luiz Ubiratan Hepp, a contenção de poluentes e a saúde ambiental dos rios. Conheça um pouco mais desses projetos.
Lucy Ribeiro Ayach: Dignidade social e água de qualidade
“Água é vida! A qualidade dos recursos hídricos está diretamente ligada às condições de infraestrutura de saneamento básico dos municípios, em especial, do meio urbano”.
Para Lucy Ribeiro Ayach, Doutora em Geografia, professora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) na unidade de Aquidauana, o desenvolvimento regional e a consolidação de cidades sustentáveis necessitam da elaboração e efetivação de um planejamento ambiental.
Com o projeto “Saneamento, qualidade da água e saúde ambiental nos biomas Cerrado e Pantanal: Uma contribuição interdisciplinar ao planejamento ambiental e desenvolvimento sustentável no Oeste de Mato Grosso do Sul”, por meio da “Chamada Fundect 10/2022 – Mulheres na Ciência Sul-Mato-Grossense”, os estudos da pesquisadora serão orientados para:
- O diagnóstico e representação das condições de saneamento nos municípios de Aquidauana, Anastácio, Miranda e Bodoquena;
- Caracterização e mapeamento dos aspectos físicos, uso da terra e cobertura vegetal e atendimento à legislação ambiental;
- Monitoramento da qualidade da água superficial nos principais rios pertencentes à bacia hidrográfica do Rio Miranda; e
- Identificação do registro de dados sobre a prevalência de doenças ligadas ao saneamento básico e ambiental.
“Vamos produzir dados científicos que possam subsidiar os setores público e privado em suas ações. A partir de um relatório técnico contendo os resultados representados de forma objetiva e aplicável ao planejamento ambiental e desenvolvimento regional, contribuímos com a ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) e diretrizes prioritárias do Governo. A ciência existe para isso”, explica a geógrafa.
Conforme Lucy, a preocupação com os recursos hídricos disponíveis no território sul-mato-grossense perpassa questões ambientais e precisa de equilíbrio entre as áreas da dignidade social e econômica. É nesse sentido que os municípios escolhidos como objetos de estudo são tão importantes.
“O saneamento básico abrange os resíduos sólidos e limpeza pública, o esgotamento sanitário, abastecimento de água e a drenagem pluvial. A ausência ou deficiência da provisão da infraestrutura de saneamento desencadeia um processo de poluição que atinge diretamente os recursos hídricos superficiais e subterrâneos. Levando isto em consideração, as ocupações pertencentes a essas regiões tornam-se ainda mais vulneráveis, tais como as áreas indígenas, comunidades ribeirinhas e comunidades pantaneiras, assentamentos rurais, entre outros”, salienta.
Luiz Ubiratan Hepp: Contenção de poluentes e saúde ambiental
“O descarte de resíduos orgânicos e industriais é totalmente inadequado na maioria das vezes. Esses materiais chegam aos corpos hídricos com facilidade, gerando diversos tipos de poluentes emergentes. Dentro dessa categoria temos os microplásticos, ou seja, pequenas partículas facilmente incorporadas pelos organismos aquáticos com riscos ao meio natural e urbano”.
Segundo Luiz Ubiratan Hepp, Doutor em Ecologia e professor na UFMS de Três Lagoas, é imprescindível o cuidado com as águas do Estado.
A partir do projeto “Incorporação de microplásticos na cadeia trófica aquática: bases científicas para a conservação dos recursos hídricos no Mato Grosso do Sul”, o pesquisador trabalha com as sub-bacias Sucuriú e Rio Verde visto a necessidade em estudos aprofundados sobre a área, palco da transição dos biomas Mata Atlântica e Cerrado.
“Eu percebi que muitas das pesquisas e geração de conhecimento ficam voltadas para o Rio Paraguai, devido ao Pantanal. A quantidade de estudos sobre a parte leste do Estado é incipiente. Os microplásticos são emergentes e afetam negativamente a qualidade da água, provocando uma série de prejuízos à biodiversidade desses animais e ao contexto de saúde humana. Há diversos trabalhos publicados em revistas científicas comprovando os malefícios da ingestão de seres aquáticos que contenham tais poluentes no organismo”, explica Luiz.
A proposta do projeto é levantar informações básicas sobre a qualidade hídrica do Rio Sucuriú e Rio Verde e identificar suas fragilidades. Com os resultados, o ecólogo pretende fomentar a criação e estabelecimento de conteúdos de gerenciamento ambiental para subsidiar as tomadas de decisões das autoridades estaduais e municipais.
“Vamos organizar um design experimental e amostral onde seja facilmente replicado em outras regiões. Muito se fala sobre o progresso econômico, mas o aspecto social é tão importante quanto. Por isso o auxílio proporcionado pela Fundect é fundamental no desenvolvimento científico e humano de Mato Grosso do Sul. Além de investir em qualificação tecnológica, ampara a formação de recursos humanos”, declara.